Angelina Jolie em entrevista a revista BOCAS

Em entrevista a revista BOCAS realizada no Four Seasons Hotel em Los Angeles,  Angelina Jolie, a mulher mais poderosa em Hollywood falou sobre Unbroken, carreira política, Brad Pitt, seus filhos e sua nova paixão por dirigir.

Quão crítico seus filhos são em relação ao seu trabalho?

[Risos] São um pouco críticos.

Você gosta de se ver na tela?

Não. Existem poucos filmes meu que eu já assisti. Eu nunca vi O Procurado ou O Turista, outros eu vi quando foram lançados e depois nunca mais. Eu gosto da experiência de ver como o público reage. Eu acho que eu sou a pessoa mais critica sobre meu trabalho e ver os meus próprios filmes é muito difícil.

Qual das personagens que já interpretou que mais se identificar?

Provavelmente com Malévola. Porque ela assim como eu, nascemos com um coração ingênuo, confiante, capaz de amar muito, e depois, por circunstâncias que aconteceram em minha vida, eu acabei deixado de acreditar em tudo isso, e nas pessoas, eu me fechei, e estava sozinho, frustrada e com raiva. Malévola se da conta do que significa ter uma família e foi exatamente assim que aconteceu comigo, que me mudou. Agora que eu tenho uma família eu voltei a ser leve, amorosa, travessa e sempre divertida.

O que significa para você criativamente dirigir um filme? Gosta disso mais do que atuar?

Eu gosto da responsabilidade que vem com fazer um filme do começo ao fim, porque eu posso fazer edição,  som, posso controlar as performances dos atores, eu estou no comando de cada efeito. Um diretor esculpe a peça inteira. Então certamente estou muito apaixonada por isso.

É verdade que você pensa em se aposentar como atriz e se dedicar à direção? O que Brad Pitt acha disto?

Já faz um tempo que Brad sabe que eu amo meu trabalho humanitário e amo dirigir e escrever. Acho que ele espera por isto. Mas não vou me aposentar totalmente, quero fazer um ou dois filmes aqui e ali, se forem o projeto certo. Acho que é legal assim. Fiquei na frente das câmeras por tanto tempo na minha vida, é bom deixar isto de lado.

Uma vez você disse que espera ansiosa o tempo em que seus filhos se tornaram adolescentes para passar mais tempo com eles...

Sim, definitivamente. O trabalho de direção leva mais tempo, mas você tem mais flexibilidade. Posso tomar café com eles, eles me visitam no estúdio, estou em casa para o jantar, posso tirar folgas se eles precisam de mim para ir ao dentista. É um tipo diferente de trabalho. E é também mais prazeroso porque você fica mais envolvido na história e com a equipe de uma forma diferente. As crianças estão chegando à adolescência, vão precisar de mim, quero estar pronta para fazer menos e estar lá para eles.

Tem alguma dica para as mães de adolescentes?

Não... O melhor conselho que alguém me deu foi: "A melhor coisa a fazer é não dizer muito". Você dá orientação o tanto quanto conseguir antes de chegar à adolescência e depois, quando chegar a vez deles de tentar coisas e expressar coisas, você só precisar estar lá para ouvir. Ouvir e ouvir muito.

Talvez ajude deixar os celulares longe da mesa do jantar?

Sim, celulares não são permitidos na mesa do jantar. É um não-não.

E como funciona nas redes sociais. Você deixa seus filhos participarem?

Humm... eles podem alguma coisa, sim. Mas não estão no Twitter ou Facebook ou coisas do gênero, mas podem alguma coisa, sim. Não estão totalmente fora da internet. Tentamos guiá-los e protegê-los o quanto podemos.

Quem você admira?

Admiro Louis Zamperini. É um grande modelo, então eu queria contar a sua história em filme.

O que pode nos contar sobre Unbroken?

Pode ser considerado o trabalho mais difícil da minha carreira. Louis morreu nesse ano aos 97 anos, ele era meu vizinho, e passamos muito tempo juntos. Louis me ajudou muito na minha vida, foi um guia para muitas pessoas e sua sabedoria está presente no livro escrito por Laura Hillenbrand. Para mim é uma responsabilidade enorme para contar sua vida em filme. Eu queria fazer isso para sua família ver, para inspirar os jovens a compreender suas vidas. Ele estreia no Natal com uma mensagem de força, fé, uma mensagem que eu acho que é muito necessária. Louis era um cara normal, que aos nove anos de idade foi pego roubando, mas acabou se tornando um grande homem. Todos nós podemos ser tão grande quanto ele.

Você é o tipo de pessoa que dá a outra face?

Não, estive tentando aprender com Louis sobre o perdão. É muito complicado. Porque se alguém me machuca talvez eu possa vir a perdoar, mas se machucarem meus filhos então não acho que poderei fazer isso.

Como surgiu a história de Unbroken?

Quando você deseja dirigir algo você vai em todos os estúdios e eles lhe dão uma lista de filmes que nunca foram feitos. Nessa lista, tinha algo da Universal Pictures sobre o filme que dizia: "a vida real de Louis Zamperini, uma história de força de espírito, fé, perdão, e é sobre a Segunda Guerra Mundial." Cheguei em casa e disse para Brad: "Eu sou muito curiosa sobre Unbroken", e ele disse: "Querida, essa história tem rodado por Hollywood por vários anos, e ninguém conseguiu leva-lo adiante." [Risos]. Mesmo assim eu disse a ele que eu realmente queria ler o roteiro, que aparentemente tinha sido escrito a 57 anos.

O diretor Tony Curtis também foi anexado ao projeto anteriormente...

Sim. Durante um tempo Tony estava pensando em faze-lo. Era um roteiro conhecido em Hollywood, que estava esperando por mim[risos]. Quando me enviaram o primeiro roteiro na época eu não dei atenção, mas quando li o livro de Laura sentiu que a aventura desse ser humano incrível havia sido feito para mim. Tanto que queria percorrer por todos os seus caminhos. Eu aprendi muito com Louis.

Sem duvida você tem muita confiança em si mesmo...

Você tem que ter, para tomar importantes decisões. Eu sou inteligente o suficiente para me cercar de grandes profissionais com quem posso ouvir e aprender. Fazer um filme é um trabalho de colaboração em equipe. Mas, no final, se tudo falhar, eu vou levar o peso disso, do mesmo jeito que se for bem sucedido, eu é que vou carregar a glória.

Você disse que estava interessada em Unbroken porque ele fala e ensina a perdoar. Qual é a sua relação com o perdão?

As minhas são complicadas [risos], já faz algum tempo que tenho pensado sobre isso, porque eu sempre me perguntava se seria capaz de perdoar alguém que viesse a abusar de mim. Eu acho que eu poderia concordar com essa ideia, mas se alguém abusar de meus filhos não acho que seria capaz de perdoar. Isso iria além das minhas forças. Sinto que há um limite para a nossa capacidade de perdoar. Eu conheci muitas vítimas de estupro, abuso, e elas acham que deve existir uma justiça. Você não pode simplesmente pedir para eles perdoarem, porque eles sentiram e ainda sentem muita dor e ódio. Assim como os soldados que retornam da guerra com a síndrome pós-traumática, eles também estão cheios de raiva e violência. Não é um tapinha nas costas deles e dizendo para eles superarem isso e perdoar todos aqueles que os fizeram muito mal, que vai resolver. Devemos ensina-los que a cura é possível e só vai acontecer quando você enxergar um verdadeiro sentido de justiça. O perdão tem de andar de mãos dadas com a justiça.

Em Unbroken nota-se que existe uma mãe forte, uma figura materna que ensina com amor e carinho seu filho. Você aprendeu alguma coisa com isso? Algo mudou em seu relacionamento com seus filhos?

Magdalena é fantástica. Ele é uma mãe dedicada, mas difícil. Espero ser como ela, porque ela tinha uma grande influência sobre seus filhos e os Zamperini são uma família muito próxima. Eu não aprendi com ela, mais sim reafirmou meus sentimentos em relação a uma família unida, que me oferece apoio e segurança. Eu cresci em uma família quebrada, que não se parecia em nada com um lar, mas tive uma mãe maravilhosa.

Em suas viagens, quando você vai para campos de refugiados você vê o pior dos seres humanos, e as consequências dessas tragédias...

Sim, você vê o pior, mas também sei que existem no mundo pessoas como Louis que se preocupa com os outros. Tudo o que vemos nos noticiários nos faz perder a fé no ser humano, em seu espírito, e acabamos ficando com raiva das coisas que vem acontecendo no mundo. A mensagem de Louis é linda porque ela não diz que ele foi excepcional, na verdade diz o oposto: como uma pessoa normal, em meio a um grupo, pode fazer coisas excepcionais. Ele tomou decisões que levaram a lugares muito escuros em sua vida e foi capaz de superar, se reerguer, e começar de novo a se tornar uma pessoa melhor. Me admira muito ouvir seus filhos falando sobre seu pai, louvando-o com carinho, respeito, amor, porque ele era um bom pai, um bom filho e um bom amigo, um grande ser humano. Com toda a escuridão que temos no mundo, temos de ajudar uns aos outros e dar um passo adiante, porque é a única maneira de acabar com o ódio e a violência.

Qual é a religião para você?

Bem, quero dizer que eu acho que nós podemos ver ao nosso redor os lados negativos de como a religião é usada como uma ferramenta de ataque. Tentei me aproximar a fé de Louis porque era importante representá-la no filme, mas é uma religião universal a todos os credos. Seja o que for, o que quer e como você interpretar Deus e o que ele significa para você. Também estou interessada na ideia da oração, e em questionar a Deus quando uma mãe se ajoelha e reza porque seu filho está longe lutando na guerra. Todas nós nos identificamos com esses momentos, de que se tratamos de encontrar valores comuns dentro da fé tudo vai estar melhor.

Dirigir um filme é um grande risco, por que decidiu se aventurar nisso?

Eu não encaro este projeto como parte da minha carreira. Eu fui para contar essa historia como uma pessoa animada, feliz por fazer algo novo. Sinto uma grande responsabilidade por esse projeto porque eu estou contando a vida de Louis, ele foi uma pessoa real, então isso pesa sobre mim.

Você já teve algum modelo/exemplo a seguir em sua vida?

Eu tive uma mãe muito forte. Ela costumava brincar que seu nome era Marcheline Marshmallow, porque era a mulher mais suave do mundo. Nunca gritava ou insultava alguém e estava sempre rindo. Ela tinha um coração forte, uma grande integridade e um fé inabalável. Foi uma linda, adorável e extraordinária mulher, e agora minhas filhas são muito fortes, eu vivo com três mulheres muito fortes.

Você acha que as jovens atrizes de Hollywood que estão começando agora tem mais pressão em termos de aparência física?

Quando eu comecei na década de noventa, ser magra ou não, não era um problema, especialmente porque não existia essa obsessão por ser uma celebridade como há agora. As novas gerações não têm a oportunidade de se desenvolverem dentro de personagens diferentes e quando alcançam a fama se identificam com uma determinada imagem. É muito mais difícil hoje em dia desenvolver sua própria personalidade como atriz, muitas são cruelmente lançadas ao estrelato sem uma identidade. Eu não acho que escolheria ser atriz se fosse para eu começar hoje.

E sobre a obsessão que existe hoje com o peso das atrizes?

Eu não sei o que dizer. Eu nunca prestei atenção a nada disso. Acho que desde tempos imemoriais as mulheres tiveram problemas de peso. Optei por ignorar as críticas de uma forma ou de outra. Todo mundo tem que encontrar o seu próprio conforto.

Você levou sua família para morar por um tempo na Austrália...

Sim, foi bom tê-los ao meu lado. Isso me suavizou nos momentos difíceis, porque foi um tempo complicado. Não posso me imaginar saindo em viajam para um lugar por vários meses e não ter meus filhos comigo.

Por ser responsável por uma grande família é a sua melhor preparação como diretora?

[Risos]. Isso certamente me ajuda porque quando todo mundo tem algo a me perguntar eu costumo ter uma resposta. Mas nada prepara uma pessoa para ser um diretor. Eu tive que aprender um monte de coisas sobre iluminação, efeitos especiais, e edição.

Como você combate o estresse? Corre, faz exercício, toma um banho?

Não, eu não tomo um banho sozinha. Toda vez que eu preparo meu banho alguma das criança correr para a banheira e acaba tomando banho comigo. Então eu não tomo um banho sozinha a muito tempo [Risos].

Você se identifica com a imagem pública que foi criada em torno de você e do Brad?

Eu não sei quem é essa pessoa pública, porque eu não prestar atenção ao que é dito sobre mim. Todos nós temos alguém em nossas vidas que nos conhece bem. No meu caso, eu estou feliz com Brad porque nós somos bons amigos. Gosto de estar com alguém que me conhece tão profundamente.

Você já se sentiu culpada por ter uma vida privilegiada?

Não, porque eu não sinto pena de pessoas. Você ajuda aos outros porque recebe mais. Eu não construi uma escola, porque eu sentia que tinha que fazer isso. Eu construir uma escola, porque estou muito feliz em poder dar um futuro melhor para meninas no Afeganistão. Eu não posso esperar para ver como elas estão caminhando. Faço parte desse grupo de pessoas dedicadas a dar força para aqueles seres humanos que acredito merecerem. E é assim que eu gostaria que os outros vissem o mundo. Eu não quero fazer as coisas por caridade ou piedade.

Acha que a sua conduta no passado como uma mulher obviamente sexual tem relação com mulheres que sofrem abuso? Você acaba de estar em Londres para discutir e trabalhar contra a violação de mulheres em zonas de guerra.

Não de uma forma consciente. Eu cresci como uma mulher que foi capaz de reconhecer sua sexualidade, porque eu acho que é importante você abraçar e compreender o poder que está dentro de si. Assim, a sexualidade torna-se bom. Eu nunca estive em uma situação igual a dessas pobres mulheres e não consigo sequer imaginar.

Alguma vez você já pensou em como seus filhos vão ser quando forem adolescentes?

Estou me preparando para isso, tentando fingir que eles não vão fazer nada de mal, porque tudo o que eles fizerem eu vou descobrir. Eu quero ser para eles como uma melhor amiga, ser honesto com eles e espero que eles sempre falem comigo quando tiverem problemas. Isso é o melhor que posso fazer. Estar perto deles, e quando chegar naquele ponto em que eles não vão quer falar comigo, quero que saibam que eu sempre vou amá-los. Mas esses anos são difíceis para todos.

Quem é o pai mais rígido entre você e Brad?

Eu. Brad é mais complacente com as meninas e eu com os meninos. Não podemos imaginar o porquê. Talvez porque eu conheça as mulheres.

É freudiano...

Sim. As meninas sempre vão fazer o que quiserem com o seu pai e ele ficará encantado.

Você se considera uma feminista?

Eu nunca penso nesses termos. Adoro e apoio às mulheres, cuido delas profundamente, mas eu não estou de forma alguma contra os homens. Eu sou uma mulher e as mulheres precisam trabalhar juntas, ajudar umas as outras. Eu sou definitivamente a favor das mulheres quando se trata de defende-las.

Como você escolhe suas roupas? Você nunca erra.

Vou ser honesta, eu não tenho nenhuma ideia de como fazer isso, eu apenas uso o que está no meu armário.

Não preste atenção às roupas?

Me visto como eu gosto e com o que eu acho que é confortável para circunstâncias cotidianas. Mas a verdade é que não presto muita atenção em minhas roupas.

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